ARTIGO – Cid Rodrigues Júnior fala sobre a vivência com o Sensei Lacerda

Comecei a pratica de judô no final da década de 70 com o sensei Fernando Lemos, no clube Grêmio Náutico Gaúcho, no final do ano de 1981. O sensei Fernando Lemos se transferiu para o Grêmio Futebol Porto Alegrense, o então diretor do GNG trouxe o sensei Manoel Apparecido Lacerda para ser o responsável técnico do Gaúcho. Houve uma divisão dos atletas na época, alguns foram para o Grêmio e outros ficaram no Gaúcho. Dos que permaneceram, ficaram a família Ferreira (Vladimir, Marcelo e Giovane), Garcia (Alexandre atleta olímpico) e seu irmão André, os Kwietniewiski (Guto, Carlos e Beto), eu e outros atletas que não me vem na memória no momento.

Desde então, passamos a receber as instruções daquele 6° dan, que era paulista de nascimento, que gerou tanta expectativas para nós. Eu gostava muito do sensei Fernando, com quem até hoje tenho contato e frequentemente vou visitá-lo em Florianópolis. Tinha certa restrição à mudança de sensei na época. Com seu estilo de treinamento bem diferente do que estávamos acostumado, o sensei Lacerda foi impondo a sua filosofia de treino e logo já tinha o domínio da turma. Ele tinha um estilo bem diferente, não deixava os atletas fazerem força nos handoris. Frequentemente, ele fazia handoris conosco.  Vejam bem,na época, com 53 anos era muito forte e nos jogava com certa facilidade, executava as técnicas com muita destreza. Fazíamos muito trabalho de pegada, uchikomis, renhakuhenka waza e kaeshi waza, trabalhos de projeções e, principalmente, trabalhávamos o tempo das técnicas.

Muito importante salientar, que com ele íamos treinar na colônia japonesa de Ivoti e na Sociedade Ginástica de Novo Hamburgo, onde o sensei Lacerda ministrou aula durante anos e formou tantos atletas campeões nacionais. Eu já era juvenil na época, esta classe era para atletas com 15, 16, 17 anos. Neste ano, passei a me classificar em todas as competições Citadino, Estadual, Dangai (competição de branca a marrom) Torneio dos campeões (que era os campeões do campeonato Metropolitano e do Interior) e havia poucos eventos naqueles tempos.

Melhorei a confiança nos meus wazas, comecei a diversificá-los, e acredito que meus colegas também, e devo muito de tudo isso a este grande sensei, aplico sempre seus ensinamentos nas minhas aulas.

O sensei Lacerda saiu 9° dan no ano de 1999 e sua faixa foi entregue por um ex-aluno que não aceitou a mesma promoção enquanto seu mestre não fosse promovido: o sensei Miura. Ele veio de Brasília e fez uma bela homenagem a seu mestre naquele dia.

Acredito que o judô do Rio Grande do Sul deva muito a este mestre que na década de 70 foi convidado pelo senhor Gastón, então presidente da Federação Gaúcha de Judô, a organizar e ministrar cursos de arbitragem.

Conversávamos muito e me lembro de que ele sempre falava da importância do sensei e como ficou fútil a utilização desta palavra hoje. Qualquer um se considera um sensei e por vezes obriga seus alunos a tratá-los como tal, este grande mestre me ensinou que o verdadeiro sensei é aquele que mostra o verdadeiro caminho, é o educador, o pai, o irmão mais velho, aquele que ensina através de seus atos.

Grande professor descanse em paz.

Cid Corrêa Rodrigues Júnior

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Autor: Walter Boehl

Bacharel em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo. Bacharel, Licenciado, Mestre e doutorando em Educação Física.

Um pensamento em “ARTIGO – Cid Rodrigues Júnior fala sobre a vivência com o Sensei Lacerda”

  1. Sensei Cid !! Compartilho da mesma opinião em relação a importância do Sensei Lacerda para o Judô Gaúcho e principalmente nacional, pois sua experiência e ensinamentos transcenderam os limites dos estados brasileiros.

    Uma vez ouvi um ditado que me recordo até hoje o autor foi o Sensei Chico que era o responsável técnico pelo Judô na Sogipa:

    ” O guerreiro até pode se ferir mas um Guerreiro de verdade não morre nunca ”

    Tenho certeza que em algum lugar junto a Deus o Sensei Lacerda continuará seus ensinamentos e doutrinas e principalmente olhando pelos Judocas de verdade que levam o Judô a sério !!

    Sandro Silveira

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